sábado, 3 de abril de 2010

Precisa-se título suficientemente abrangente para esta teia

A seguir à desilusao de Puerto Montt, nada como rumar até Villarica. Tínhamos uma ideia fisgada: ir passar um dia às termas. E assim foi. Fomos com uma miuda do Quebec que conhecemos pelo caminho - a Miriane - a qual acabou por nos acompanhar durante alguns dias, revelando-se uma optima companhia! E que bem que nos soube aquelas banhocas quentinhas com águas termais! E o banho de lama!Ui! Daquela que seca e demora imenso tempo a sair do corpo e só lá vai com uns bons esfreganços :)
Estávamos mesmo a precisar de um dia assim, de molho, de sorna junto à piscina.
Entretanto conhecemos uns músicos de rua e ainda passámos uns bons momentos com eles. Numa primeira noite levaram os instrumentos para junto do lago e estivémos a ouvir Vitor Jara e Violeta Parra na doce voz da Mirilyn. Numa segunda noite fomos bailar um pouco de "cumbia" para o pub da terrinha. Eu e a Claudia ainda nos entusiasmamos com o fabuloso mundo do karaoke. Havia imensa música portuguesa para escolher! Imaginem!Aventurámo-nos no célebre "Afinal havia outra" da Mónica Cintra. Achámos que seria o tema perfeito para marcar a passagem destas portuguesas por esta regiao. Qual nao foi a nossa surpresa quando a melodia começa e nos apercebemos que apenas conhecíamos o refrao... ficámos mudas a olhar para o monitor e nao saiu um pio. Esse momento vergonhoso está gravado. Quem quiser assistir ao tesourinho deprimente poderá solicitar. Uma pérola. Catchai?
Enfim, mas repostas as energias com o ar das termas, estávamos prontas para subir ao vulcao Villarica. E lá fomos nós escalar o monstro. Começamos bem cedinho (7h da manha em Pucón), pois existe uma lei que proibe a permanencia de pessoas no topo para além das 14h. E ainda sao umas 4h a subir! Nao é brincadeira! Principalmente quando começa a parte da neve e os pés começam a escorregar e evitamos olhar para as ribanceiras brancas de gelo deslizante. Mas a cratera compensa tudo! É impressionante olhar para a garganta aberta de um vulcao! Principalmente deste, que de vez em quando ainda dá um ar da sua graça e que nos brindou com gemidos e muito vapor. E as cores! Sao lindas as cores da cratera! Uma autentica força da natureza. E a vista que tínhamos lá em cima! Que espectáculo imponente! Muitas vezes comentámos como nos sentíamos privilegiadas e sortudas por estar a viver tudo isto.

Depois seguimos novamente para a Argentina. A nossa amiga Miriane quis acompanhar-nos, pois ainda nao conhecia o país vizinho e achou que seria um bom sítio para comemorar os seus 23 aninhos. Ela é uma aprendiz de biologia marinha que se preparava para vir estudar para Concepcion durante um ano. O terremoto destruiu a Universidade e ela viu-se obrigada a regressar ao seu país. Nao sem antes fazer uma pequena tour com nosotras. Festejámos o seu aniversário (28 de Março) em San Martin de los Andes. Um povoado pequenito e bonitinho, com um lago cheio de veleiros. Comemos um peixe (peixinho!!) divinal num restaurante muito catita e fizémos-lhe uma surpresa com um bolo e uma prendinha. Foi bonito.

Já o meu aniversário foi passado em El Bolson. A estrada até lá é a chamada rota dos sete lagos. Sao todos lindíssimos. Especialmente com a luz do entardecer. Adorámos a paisagem. El Bolson é um pueblito menos turístico, mais a sul. Teoricamente um dos últimos bastioes das comunidades hippies dos anos 70. Conhecemos uma dessas personagens. Um rapazinho que largou a carreira promissora na Plata para vir viver em comunhao com a natureza e tomar banho na água gélida do rio. Está a construir a sua casa segundo métodos artesanais, com bosta de cavalo.
Foi um dia bem passado. Enfeitámo-nos com bijuteria comprada na feira de artesanato dos artistas da terra (a minha companheira ofereceu-me um super colar com uma pedra verde)e depois fomos fazer um belo petisco ao ar livre no pátio do refúgio onde estávamos alojadas. Digo-vos que o repasto foi maioritariamente composto por guloseimas :) Com direito a vela e tudo! Foi um momento emotivo, que recordarei no futuro com bastante prazer.
Ainda ponderámos aceitar um convite para ir fazer a festa com uma grupeta de músicos, mas acabámos por nos distrair com a nossa conversa e o nosso vinho e ficámos por ali na pura palheta (ainda temos assunto depois de 2 meses!). Será que estamos a ficar demasiado velhas? Enfim, os 29 já cá cantam! Por um mesito temos a mesma idade.

Hoje chegámos a Santiago depois de uma viagem interminável e cansativa. Atravessámos a zona mais afectada pelo terremoto mas apenas durante a noite e nao vimos nada. Começamos a ficar habituadas ao folclore da fronteira, de tantas vezes que já a cruzámos. As autoridades chilenas sao muito rigorosas com os produtos que podem entrar no país. Sempre que entramos assinamos uma declaraçao, jurando que nao transportamos fruta, vegetais, sementes, ou derivados de leite. Cuidado com as doenças contaminantes que essas coisas podem esconder! Quanto à minha faca do mato, nao causa estranhesa. Sempre na minha mochila de mao. Mas eu que me atreva a tentar traficar uma sandes de queijo! Que infame! Sou olhada como uma criminosa e segue directamente para o lixo! E no más! O que vale é que o sistema é tao falível que lá conseguimos ir passando umas iguarias camufladas. No minuto a seguir à aduana já se vêem pessoas dentro do autocarro a comer maças.

Amanha a minha companheira segue para a Ilha de Páscoa durante uns dias e eu vou ficar aqui a dar outras voltinhas. Cada uma irá contando as suas novidades. Vao aguarndando. No máximo a partir de dia 10 já estaremos novamente juntas.

Termino com uma curiosidade: até agora encontrámos um único português durante toda a nossa travessia: um guia que se exilou nas Torres del Paine. Mais nenhum sinal de tugas por estas bandas. Conhecemos um trio de franceses em Calafate (com quem marcámos novo encontro no Perú) que estao a dar a volta ao mundo. Já andam há seis meses a viajar pela Ásia, África e agora América do Sul. Nós fomos as primeiras portuguesas que eles encontraram. E assim vos deixo com este facto que dá certamente que pensar.

Até já!

2 comentários:

Inês disse...

Pois é... esqueci-me de mencionar a parte da descida do Vulcao Villarica. Mais propriamente o "método" de descida. Viémos a deslizar de cuzinho por toda a parte de neve. Ainda deu direito a uns espalhos. Mas foi fabuloso descer por aqueles escorregas naturais. Que adrenalina :)

Escrivã disse...

=) parabéns atrasados! beijinhos!