sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Perú visto daqui

Agora que terminaram as 3 semanas alucinantes às voltas pelo Perú, na companhia dos 4 estarolas (neste momento eles já estarao no aviao a caminho de Lisboa) tenho um tempinho a sós (a Claudia foi "pa"Nazca e só regressa a Arequipa hoje à noite) para calmamente poder colocar a conversa em dia.
Impoe-se entao um post mais analítico, resultante da "digestao" de todas as vivências que fomos tendo neste país e dos seus costumes.
Desde que entrámos no Perú, que observámos a atroz diferença entre esta economia e a dos outros dois países por onde tínhamos passado. E sentimos que tínhamos chegado a um território designado (classificaçao já ultrapasada mas enfim) de "terceiro mundo". Fomos obrigados a esquecer a sociedade acéptica em que normalmente vivemos, protegidos pelas regras da ASAE e da Uniao Europeia.
Aqui, a carne é cortada e vai secando nos balcoes dos mercados, com uma higiene duvidosa e sem qualquer tipo de refrigeraçao. Aqui encontram-se baratas nos restaurantes e nos quartos dos hostais. Aqui as casas de banho nunca têm papel e algumas nem sequer água canalizada. Aqui vende-se sumo em sacos de plástico com uma palhinha espetada e copos de gelatina que aquece à temperatura ambiente. Aqui as crianças que vivem no meio rural têm as bochechas em crosta, tostadas pelo sol intenso e impiedoso em peles frágeis que nunca viram a cor de um protector contra raios ultravioleta. Aqui as casas estao eternamente inacabadas. O tijolo à vista e os ferros espetados nos telhados revelam o desejo de um futuro acrescento (para quando houver dinheiro, ou quando os filhos constituirem família, oxalá nao haja nenhum terremoto que destrua tudo e os obrigue a construir tudo de novo!). Aqui anda sempre uma pessoa pendurada nas portas dos autocarros a gritar o destino para onde se dirigem e a angariar fregueses (durante o tempo que estou aqui neste cyber, vou ouvindo consecutivamente esses vários pregoes). Aqui temos que estar sempre a regatear o preço de TUDO (e sabemos que por mais que baixemos a fasquia, estamos sempre a ser enganados, como bons turistas que se prezem) e quando recebemos uma nota, temos que verificar vezes sem conta que nao é falsa (eu fui a primeira contemplada com uma dessas e a partir daí nunca mais nos deixámos enganar! deixa cá ver a qualidade do papel! deixa cá ver se os números brilham, se se vê à transparência!).
Como já vimos nos posts anteriores, também fomos obrigados a esquecer as regras de transito e os limites de velocidade. Aqui os motoristas revelam um total desrespeito pelo valor da vida humana . Assistimos a várias ultrapassagens que nos meteram os cabelos em pé. Além disso, aqui uns meros 200 km demoram sempre 6h a ser percorridos devido ao mau estado das estradas.
De resto, apesar de todo este caos, os peruanos assemelham-se aos seus vizinhos sul americanos. Sao um povo simpatico e relativamente acolhedor. Muito devotos a todos os santos, bastante musicais (aqui também existe o culto dos clássicos anos 80) e tendo o turismo como uma das principais fontes de receita (tudo é pretexto para sacar mais alguns soles aos estrangeiros).
Estou agora em Arequipa e aqui pretendo permanecer uns diazinhos de relaxe, para recuperar do ritmo acelerado dos ultimos dias.
Arequipa é a segunda cidade do Perú. Está bastante cuidada. Sobrevivem muitos edifícios, igrejas e mosteiros do tempo dos espanhóis. É uma cidade repleta de vida, recheada de mercados onde se vende de tudo e todas as ruas se enchem de animaçao desde o alvorecer (em contrapartida, às nove da noite já quase nao se avista vivalma). Visitámos um museu que guarda uma das múmias mais bem conservadas do Mundo, encontrada perto da cratera de um vulcao aqui próximo, Juanita de seu nome, e oferecida àquela montanha como prova da devoçao dos incas aos seus deuses. Aí pudémos aprender um pouco mais sobre os significados presentes nos rituais fúnebres daquele povo, diferentes consoante as classes sociais de onde provinham as crianças sacrificadas, as quais deveriam possuir uma beleza imaculada.
Nos últimos dias o grupo separou-se. Três dos estarolas seguiram para Nazca e foram avistar as famosas linhas que desenham figuras gigantescas nos campos, cuja percepçao total apenas se pode ter a partir de céu (ou de uma avioneta). A outra ventosa depois nos contará a experiencia.
Eu cá fiquei com o Russo e a Mila. Fomos até Chivay, um pueblito a 4h de distancia. Dormimos num hostal bem simpático, onde vivia uma família e um lama bebé que parecia um cao. Visitámos o Valle e o Cañon del Colca, um dos mais profundos do Mundo e avistámos muitos condores, a planar bem juntinho dos nossos olhos. Também aprendemos a diferença dos trajes típicos entre quechuas e aymaras, collaguas e cabanas, solteiras e casadas :)

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