sexta-feira, 30 de julho de 2010

Vida campesina e boa onda argentina

Ola ola directamente do Valle de Uspallata, entre a pré cordilheira e a cordilheira dos Andes, aqui bem pertinho do Aconcágua ;)
Estive a tentar publicar mais fotos aqui no blog mas esta internet é de terror e acabei por desistir...
Por isso vao ter que se contentar com um simples post, para vos pôr a para daquilo que ando a fazer por aqui, pois já me apercebi que a curiosidade é imensa :)
No campo há sempre muita coisa para fazer, mas tudo corre a um ritmo tranquilo e relaxado.
Nos nossos passeios, nunca nos escapa nenhuma plantinha autóctone, que levamos para o nosso viveiro particular. Temos feito muitas germinaçoes. Tenho particular fé nuns moranguinhos que plantei e que deverao estar a despontar na Primavera. Apercebi-me que os frutos vermelhos sao os meus predilectos :) E aquela maçaroca colorida que trouxémos de Jujuy lembraste Clau? Parece que também vai pegar! :)
Merecem também destaque alguns apontamentos gastronómicos que têm aguçado um pouco a melancolia: na nossa ida mensal à grande cidade descobrimos no supermercado "sardinhas portuguesas"! É obvio que delirámos e fizémos uma super sardinhada no dia seguinte... nem pensem que me podem meter inveja com as vossas sardinhadas de Verao! Esta, em pleno inverno, foi um êxito! Além disso comprámos também bacalhau e já existe um argentino rendido aos encantos das nossas receitas. Principalmente com natas no forno! Yammi! E agora que o forninho novo já está completamente finalizado, também nos temos fartado de fazer pao. E que bom que é fazer o nosso próprio pao! É oficial, a minha alcunha da Tuna começa agora a fazer algum sentido.
O programa da Rádio La Paquita também continua sobre rodas. Às vezes lá é forçada a minha participaçao, com o meu sotaque exótico, nomeadamente para reivindicar contra um projecto de minha a céu aberto que está planeado para esta zona. Trata-se de uma luta local bastante forte, a qual foi aliás o motivo principal para a criaçao desta Radio Comunitaria. As minas a céu aberto já foram alvo de uma resoluçao do Parlamento Europeu, no sentido da sua eliminaçao até 2011, devido aos efeitos devastadores para a biodiversidade que acarreta o uso de cianuro e outras substancias quimicas no processo de lixiviaçao dos metais. Também já tive oportunidade de escrever um artigo sobre este problema num jornal local.
Entretanto soube que através de um observatório astronómico situado no Chile, foram descobertas várias estrelas gigantes, uma delas 300 vezes maior que o sol. É claro que isso por aqui tem dado azo a vários comentários sobre o fim do mundo profetizado pelos Maias, o qual deverá ocorrer em 2012. Ainda muito se virá a escrever e dizer sobre essa profecia, que nestes países acaba por ter um impacto muito mais forte. O fim do mundo nao será... mas algo irá acontecer! Quem sabe uma grande mudança de consciencia...
Entretanto, enquanto muitos de voces vao estar em Sines, no domingo vou celebrar o dia da Pacha Mama, ao som de muitos tambores e com direito a uma grande oferenda à mae natureza, para que a comida continue a ser saborosa e abundante!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Para onde o vento soprou...

O amor tem destas coisas...
O amor que eu tenho pela minha amiga levou-me a querer fazer com ela esta viagem, e esse mesmo amor que por ela sinto não me permite outra coisa senão dar-lhe o espaço que ela merece para ser quem é, e para fazer o que quer, tal como eu sei que ela me dá a mim.
A nossa viagem, segundo o meu ponto de vista, sempre nos permitiu dar liberdade uma à outra...se por algum momento os caminhos tinham de seguir direcções opostas, assim foi, mas sempre com previsão de regresso...a nossa viagem é feita a duas e longe ou perto, eu estou com ela, e ela comigo.

Tudo isto para dizer, que depois do nosso reencontro, e de passarmos pelos sítios onde a ventosa morena vos descreveu, seguimos rumo à terra que roubou o coração da minha companheira de viagem. A nossa viagem seguiu caminhos opostos quando fui à ilha de Páscoa e enquanto estive na Bolivia. Cada uma de nós viveu experiências diferentes, que nos deram novo brilho e crescimento...

Foram algumas as horas de bus que ainda tivémos de percorrer até chegar lá...eu, que não tinha motivos para isso, acho que estava tão excitada com a perspectiva de ir conhecer Uspallata como ela devia estar no dia em que resolveu largar tudo e seguir para lá.
Chegámos de noite, e pouco depois aparece o rapaz que nos acolheu...o Dom Quixote de Uspallata! Argentino de gema, romântico de coração.
Acho que estávamos os dois nervosos (eu e ele)...acho que estávamos os três contentes...
Posso contar isto Inês?!!?? Permites-me?
Se me permites então contarei também, que gostei muito de ai estar....gostei muito de o conhecer e toda a realidade campestre que a ti também te cativou. Se me permites, vou contar ao mundo que existem galinhas, porcos e leitões, um gato e dois cães enormes, montanhas lindas e um casal de apaixonados escondido numa cabana pintada de cores vivas. Se me permites vou contar que construímos um forno enquanto ai estive, que passeámos a cavalo... vou dizer que conheci amigos vossos cujo coração superava o corpo, se me permites vou ainda dizer que te vi brilhar como há muito tempo não via, e que me sinto feliz de ter testemunhado esses momentos, em que a vida atinge a simplicidade do dia-a-dia, em que o amor justifica tudo, e em que estiveste com uma plenitude como eu nunca te vi antes...
Se me permites Inês, vou contar ao mundo que estás feliz, e que eu estou feliz por ti, e que mesmo longe, sei que continuamos perto...eu em Lisboa, tu em Uspallata...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um pulinho ao Norte

Depois de quase um mês de afastamento, as ventosas reuniram-se em Jujuy, no Norte da Argentina. Foi um reencontro bastante emocional :)
Há muito que queríamos conhecer esta cidade, mas ainda nao tínhamos tido oportunidade.
Visitámos Pumamarca, um pequeno pueblo nos arredores e contemplámos o seu fabuloso Cerro das Siete Colores, bem do alto de um monte onde sentimos o amor universal :)
Também fizémos um tour por umas lagunas lindíssimas (e mais uma vez a nossa estrelinha brilhou e pudémos disfrutar da boleia de um senhor tao simpático, tao simpático, que fez uma viagem de propósito só para nos ir buscar) e descobrimos um pequeno paraíso onde fizémos um pic-nic e treinámos um pouco os nosso instrumentos de sopro.
Depois conhecemos tambem Salta, uma cidade bastante maior e bem bonita, principalmente à noite, com todos os monumentos iluminados. Tem também uns parques enormes e bem acolhedores.
Entretanto comprei uma máquina fotográfica, por isso já estou armada para vos mostrar novas imagens.
Depois de Jujuy e Salta viémoa novamente para Uspallata.. mas como eu já escrevi demasiado sobre esta vila, deixo agora que seja a Clau a tecer as suas consideraçoes. Serao publicadas em breve! :)

domingo, 4 de julho de 2010

Resumo de quase um mês de viagem alone!

Parte I - Zona Norte

Ora cá estamos novamente...desta vez, para dar as últimas informaçöes sobre os dias passados na Bolívia!
La Paz, foi fixe, de lá segui para Cochabamba, abaixo do altiplano, e cujo principal atractivo é a variedade gastronómica. Segundo a guia, começam o dia com uma sopa, a meio da manhä uns fritos ou umas batatas "rellenas", ao almoço o menú completo (sopa e segundo), a meio da tarde bora lá a umas empanadas e ao jantar siga o menú novamente!
Pareceu-me o lugar ideal para recuperar da segunda gastro e assim sendo lá segui rumo a esta simpática cidade na companhia do Basco. Felizmente além de comer ainda tive a oportunidade de assitir a um concerto de jazz com músicos muito criativos! Valeu a pena o dia lá passado!

Seguimos depois para o que seria zona de selva, Villa Tunari, onde encontrámos amigos de La Paz (Solene e Guilhermo) e um novo amigo cataläo (Lluis). Mais uma vez, num dia démos a volta ao "pueblito" e ainda aproveitámos para ver os "monitos" do parque Machia. Foi o ponto alto do dia! :D Vejam as fotos!
Ás 2h da manhä, pusémo-nos ao lado da rua que seguia até Santa Cruz à espera dos buses que vinham de Cochabamba. O plano era pará-los e entrar...prática corrente nestas terras...Assim foi, pouco tempo depois aparece um bus, que só tinha um lugar livre, e como nós éramos 3 (eu e os espanhóis) näo deu...esperámos mais um bocadinho e surge o veículo alado onde viajaríamos entalados entre mamitas, em bancos de molas soltas e aroma saturado. O pormenor mais interessante desta viagem, foi que nos puséram as bagagens num dos alçapöes da parte baixa do autocarro...e dizem voçês: Perfeitamente normal!...E sim, até seria, se nao estivésse a dormir lá uma pessoa durante toda a viagem e nem quando chegámos a Sta Cruz, e retirámos a mala aquela alma de lá saiu!! Precisarei de dizer mais alguma coisa?
Em Sta Cruz näo parámos...o objectivo final era a simpática vila de Samaipata. Turística ao que consta, mas com ruinas Inkas por perto e carregadinha de caminhos para percorrer no meio da natureza! Assim sendo, e como diziam que em Sta Cruz nao valia a pena parar, apanhámos logo outro bus pequeno e seguimos viagem.

Samaipata foi sem dúvida o meu ponto alto da Bolívia! Vila pequena, com alguns alemäes e estrangeiros de outras nacionalidades a coordenar alguns restaurantes e padarias que me mataram a saudade de tantas "delicatéssem" europeias! E o tempo era óptimo, e verde por todo o lado, e uma sensaçao de conforto e de estar no lugar certo!
Fiquei a saber que se iria festejar o solstício de inverno numa das maiores ruínas Inkas do pais, numa pedra/rocha totalmente talhada no topo de uma montanha sagrada. Era o que precisava de ouvir para me decidir a ficar ali à espera deste grande festejo. Uma semana foi o tempo que ali passei e dou por bem gastos os dias de ritmo lento e pouca ocupaçao. No início da semana, para aproveitar a estadia de poucos dias dos espanhóis, ainda fui fazer uma caminhada e tentei ir até Vallegrande ver o balneário onde o CHE foi fotografado morto, o "lavadero" onde o limparam, e todas as esculturas e obras em sua honra. Neste dia fatídico näo passei da casa de banho do museu, onde tive uma poderosa recaída da gastro, a minha terceira, e acabei por ter de passar o dia na clínica mais próxima. Vallegrande definitivamente näo é cidade para ninguém, que o diga o companheiro Che!!
Este foi mais um dos motivos que me levou a permanecer no pequeno paraíso que tinha encontrado neste pais. Armada de desculpas para ali permanecer, apenas vos posso dizer, que entre aulas de artesanato, fogueiras nocturnas e dias de sol deitada a rede, tive uns dias santos de espera pelo famoso solstício. E assim, no dia 21 subímos ao monte onde a cerimónia decorreria e lá esperámos toda a noite pelo amanhecer que os Xamans da regiäo iriam abençoar. Uma cerimónia simples, com insensos, cânticos e uns quantos raios de sol a espreitar por entre as núvens...Que emoçäo!!!

Parte II- Partida para o Sul

Um novo ano Inka nasceu!! Dia 21 começou o novo ano e para mim começou uma nova etapa de viagem...a descida ao sul!

Relatei-vos num pequeno/grande texto anterior a este, alguns dos problemas que eu e a Soléne encontramos na nossa tentativa de seguir viagem de forma económica. Só para que tenham uma ideia mais precisa do que foi, acrescento que se tivéssemos ido de bus directamente de Samaipata demorávamos 12h...com o caminho que acabámos por escolher por confiarmos nas vozes do povo, demorámos cerca de 2 dias e duas noites...enfim, Bolivia no seu melhor!!

O pior, foi que depois de uma semana de paz e sossego, tive uma semana de corrida contra o tempo, poucas horas de sono e pouco conforto.

A saída de Samaipata já sabem como foi, e quando finalmente chegámos a Sucre, a täo desejada cidade, tive logo de comprar o bilhete de bus para seguir ainda mais para sul, para Tupiza, de onde faria um tour de 3 dias pelo salar de Uyuni, um dos maiores do mundo. Tudo isto, para conseguir estar a tempo e horas na cidade Argentina onde combinei com a Inês o reencontro. O tempo urgia e näo foi fácil cumprir com o prometido, ainda assim, como dizia, chegámos de manhä a Sucre, dei uma volta pela cidade, papei uma comidinha que desconhecia no mercado central e ao fim do dia estava de novo no bus a caminha de Tupiza.

Cheguei a Tupiza as 5h da matina, e na propria estaçao de bus encontrei um Françês e um Quebéquiano com intençöes de fazer o mesmo tour que eu, com saida nesse mesmo dia o mais cedo possível! Depois de uma horas de espera para que as agências abrissem, lá conseguimos o que procurávamos...gastei até ao último centavo boliviano e americano que tinha comigo, e lá fui eu fazer o meu último tour neste país...o täo esperado Salar de Uyuni!!!

Três dias e duas noits a dormir em hoteis sem água e camas duras, mas com um guia e cozinheira! Comi que me fartei o dia todo, mas para compensar, e porque o tour normal era de 4 dias e nós quisémos fazê-lo em 3 por causa da falta de tempo, dormi sempre cerca de 5/6 horas, e isto porque íamos para a caminha as 21h!!! Sim, porque saímos sempre as 3h/4h da manhä para conseguirmos precorrer os Km diários necessários para cumprir os prazos!!
O bom de tudo isto foi que tivémos sempre a possibilidade de ver o nascer e o pôr-do-sol naquelas paisagens lindíssimas e quase lunares...excluindo o magnifico salar, cuja brancura e planura me espantaram mais do que imaginava! Mais uma vez...espreitem as fotos!!

A prova foi superada com êxito e lá corri eu de novo para o bus, passei a fronteira da Bolívia e eis-me de novo nas terras civilizadas e galäs da Argentina! Mesmo de pele e feiçöes parecidas aos Bolivianos, bastou passar a fronteira para imediatamente a espontaneidade das pessoas e o conforto dos buses mudar!! Que bom estar de volta ás viagens de horas a fio com filmes e refeiçöes a bordo!!! Saudades deste conforto!!!

E pronto...foi assim que passei as minhas semanas na Bolivia...no inicio mais "despacito", no fim mais a correr pela falta de tempo...num misto de ódio e amor pela passividade Boliviana, num misto de repulsa e curiosidade pela comida que tanto mal me fez mas que täo boa era...
Hoje posso sem dúvida dizer que quero voltar...sabe-se lá quando, mas é um pais com muito para ver e eu fiquei com a sensaçäo de que me faltou mesmo muito...