quinta-feira, 23 de setembro de 2010

arte e agricultura

Mais uma visitinha de médico ao cyber.
Mais um post curtinho, apenas para abrir o apetite.
Desde que voltámos de Buenos Aires, começou a actividade intensa.
Abrimos finalmente um puestito de artesanato na Plaza de los Artisanos, no "centro" de Uspallata. É muito bonito e vai-se enchendo com cada vez mais artigos, à medida que vamos produzindo. Apostamos principalmente em objectos feitos com materiais reciclados, ou que normalmente sao considerados lixo. Ainda nao fizémos muitas vendas mas os comentários dos visitantes têm sido positivos :)
Aparte isso, cultivei a terra pela primeira vez na minha vida e adorei.
Fizémo-lo no primeiro dia da Primavera, aproveitando tambem o poder da lua cheia. Dizem os entendidos que foi o momento perfeito. Ontem plantámos abóboras, milho, manjericao, pimentos e cebola e hoje vamos continuar. E o mais bonito de tudo é que trabalhámos a terra de forma completamente artesanatl, com o esforço das nossas maos (os calos assim o evidenciam). De enxada em punho tambem construimos o caminho da água até à nossa quintinha, transformados em castores, moldando aos poucos o terreno deste pequeno paraiso rural.
Hoje vou construir um espantalho :)
Ando a ler Saramago. Desta vez em castelhano. "Levantado do chao" traz-me a lembrança do meu querido Alentejo, também ele cheio de histórias da vida no campo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A penitência

Dois meses passaram e apesar de isso significar tão pouco na escala do tempo e da minha vontade de usufruir desta bela cidade e da minha família e dos amigos, a verdade é que me pareceram uma eternidade de cansaço, mesquinhices e luta para não me deixar afundar num mundo que descobri que desgosto bastante!

As obras…as obras são a realização material do que foi sonhado por alguém, e é impressionante como esse sonho em tão pouco tempo se transforma numa marcha penitente que a meio já nos arrependemos de ter iniciado algum dia. Todo um conjunto de ideias, desejos, ilusões e investimento pessoal são depositados nas mãos de alguém que acreditamos que sabe o que está a fazer e que no final, inevitavelmente, em vez de prazer, nos traz descontentamento e desilusão, e tudo o que um dia nos pareceu boa ideia se transforma numa tormenta pela qual não queríamos ter de passar.

Nem toda a gente pensará assim, mas pude comprovar mais uma vez nesta minha curta estadia por Lisboa, o quão penoso pode ser acompanhar obras de perto ou ter uma pessoa próxima a fazer obras na sua casa e caber-nos a nós o seu acompanhamento.
Como sabem, arranjei trabalho enquanto estou por Lisboa. Fiz acompanhamento de obras para a empresa que resolveu aproveitar os meus conhecimentos ao mesmo tempo que essa mesma empresa está a fazer obras na casa da minha mãe! Não o procurei, aconteceu. Na altura achei que era uma sorte bem-vinda... hoje fico feliz por finalmente ter acabado o trabalho que me predispus a fazer para eles durante um mês e meio de modo a juntar o dinheiro que preciso para seguir viagem.

Descobri que é um mundo mesquinho, em que em vez do profissionalismo e rigor o que fala mais alto são os valores do dinheiro. Anda meio mundo a enganar outro meio. Fazem-se orçamentos fora de escala que os clientes ingenuamente aceitam por acreditarem estar nas mãos de gente competente, e eu, no meio disto luto com a minha consciência que é obrigada a ceder aos mandos do “Patrão”, mas que ao mesmo tempo está a ver o cliente a ser ludibriado sem piedade pelo empreiteiro, que com discursos mansos passa por cima de questões, pedidos e chamadas de atenção.

O cliente implora, choraminga para que parem com a matança, que deixem de lhe sugar o papel verde que a custo guardou no banco e que agora vê voar a uma velocidade assustadora e imprevista. Não fica plenamente satisfeito com quase nada do que pediu para ser feito!

No início tudo era perfeito, tudo era possível, tudo fácil de realizar e tudo cheirava a satisfação. No decorrer de algum tempo o amargo do bolso vazio e das ilusões desfeitas começam a tomar forma. Tudo é mais complicado do que parecia, tudo demora mais do que o previsto por isto ou por aquilo, tudo exige paciência e nada pode ser como ele quer, porque afinal é leigo no assunto e eles é que são profissionais, eles é que sabem como e quando se faz.

E chega o dia em que finalmente tudo descamba…o Dono de obra explode de raiva acumulada, ouvem-se discussões tidas como irracionais e todos os pedaços de silicone que foram sendo postos para esconder imperfeições são arrancados à unha.
O vidro parte e só depois de limpar os destroços e sucumbir às evidências é que ele aceita a derrota como mais um golpe da vida que vai ter de conseguir encaixar.
A obra da minha mãe foi assim…as obras que acompanhei também não estiveram longe deste cenário…e hoje recordo a obra da minha própria casa que tanta dor de cabeça me deu…as obras do atelier onde trabalhei, com tantas disputas e saturação por parte dos clientes…

…Hoje estou no avião para Paris na companhia do Luis. Vou fazer as vindimas mais uma vez. Vou juntar mais uns trocos, mas desta vez a dor será apenas física, a cabeça, sei que essa estará leve e flutuante. Finalmente vou sair do suplício que me tirou toda a paz que tinha conseguido durante a viagem à América do Sul. Sinto-o como uma batalha que não venci, e que apesar de não ter sido derrotada levou-me à exaustão, ao cansaço físico e mental, ao conflito e acima de tudo á descoberta de que não quero viver assim, e que qualquer que seja o rumo que a minha vida siga, espero conseguir manter-me longe desta exaustão, porque a vida é para ser vivida, não é para aceitarmos ser espancados pelo trabalho e chegar ao fim com uns tostões no bolso que nos são entregues em tom de compensação pelos danos causados. Espero lembrar-me disto sempre, que estas lições são para guardar!

Bem, e com isto vai longo o texto e qualquer dia expulsam-me deste blog! Porque afinal, aqui pode-se viver ao sabor do vento!!