segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Feijão com arroz

Ainda faltou dizer que muito pertinho de Belém visitámos também a ilha onde se localiza a pacata vila de Algodoal, famosa pela beleza da praia da Princesa e pelo ritmo do carimbó, que infelizmente não conseguimos ouvir ao vivo. Apenas na rádio (as aparelhagens do Pará são hiper famosas!) da tasquinha simpática onde jantámos e escutámos histórias alucinantes. "Pai d'égua!"
O mergulho que démos à noite na praia, banhadas pela luz da lua, foi também alucinante :)
A próxima paragem foi então São Luís do Maranhão. Mas apenas de passagem (viémos a saber só mais tarde que a cidade até tem bastante para oferecer), pois seguimos directamente para Barreirinhas, o ponto de paragem obrigatório para quem quer visitar os famosos Lençóis. E nem aí nos demorámos muito tempo, pois recusámos os tours demasiado programados às dunas. Nós queríamos ir por nossa conta e não enfiadas numa carrinha com todos os turistas. Então nada melhor do que apanhar um barco (já tínhamos tantas saudades de andar de barco!) até Atins - demora umas cinco horas - e daí caminhar ou apanhar um transporte alternativo mais económico.
Atins é um lugar a não perder. A primeira praia que considerámos paradisíaca. Ainda bastante selvagem e pouco tocada pelo homem, é o refúgio de vários estrangeiros que escolheram este cantinho para ter uma vida tranquila. Nós tivémos a sorte de conhecer o Federico - um argentino e advogado de Córdoba que ali está a iniciar uma nova fase da sua vida - passeando os seus cinco cães na praia. Ele convidou-nos para jantar peixinho e camarão na sua casa, juntamente com alguns amigos (nomeadamente uma francesa e um espanhol). Estava tudo delicioso e a seguir ainda fomos dançar um pouco no baile de forró lá da terra. Foi a primeira vez que eu assisti e participei (uma participação breve é certo) num baile de forró. E era daquele bem rápido e electrónico! Foi uma experiência. Há quem nos esteja a ler e saiba do que eu falo. Quem não sabe, terá que vir aqui observar porque é indescritível :)
A música é realmente uma componente muito forte da identidade brasileira. E é vivida de uma forma naturalmente sedutora e livre, deixando desarmado qualquer europeu habituado a movimentos rígidos e infantis, aos quais ele chama de dançar :)
Os brasileiros que vivem com o Federico levaram-nos entao na manhã seguinte de moto quatro até à Lagoa Verde, bem no meio do Parque dos Lençois. Foi muito bom! É tão bonito observar aquelas montanhas de areia, mesmo agora que tudo está bastante seco! Imagino como será na época das chuvas, quando a água enche todas as concavidades formando os riachos azuis no meio do branco!
E melhor ainda foi ver essas formas das dunas de madrugada, iluminadas pela luz da luna, no percurso entre Barreirinhas e Tutóia. Não fosse o agressivo bambolear da carrinha e o cheiro intenso a gasolina, o trajecto seria bem romântico :)
Daí até Parnaíba foi um pulinho e depois outro até Jericoacoara, dessa vez de Buggy pela costa com o casal da ardente brasileira e do panhonha americano :)
Jericoacoara foi o nosso segundo paraíso. Talvez porque as expectativas não eram muitas. Talvez porque não esperávamos nada...
Jericoacoara é bem mais turístico do que Atins, mas não deixa de ser acolhedora. Pelo menos nesta época ainda baixa. O destino eleito pelos amantes do kyte surf (?), é uma terra onde os burros pastam à beira-mar (e talvez daí lhe venha o nome - há quem diga que tem a ver com um jacaré) e muitos peregrinam até à duna gigante para ver o magnífico pôr do sol. Nós também lá estivémos e eu até experimentei fazer um bocadinho de sandboard (sentada claro!).
Agora já estamos em Porto de Galinhas vice? Tá ligado?
Entretanto já passámos por Fortaleza e Recife. Pernambuco já é terra de maracatu e frevo, outros ritmos que animam a galera.
Mas depois a Cláudia conta-vos melhor pois o meu testemunho já vai longo e temos que ir arranjar algum transporte que nos leve a Maceió! Sempre prontas para seguir pela estrada fora!
Estamos super fãs do açai (ainda há bocadinho comemos um com banana mel e muesli divinal), da tapioca (ai então aquela com goiabada e queijo!)e de todos os sucos de frutos com nomes impossíveis de decorar (ok, alguns - cupuaçu, acerola, graviola, bacuri...)que temos encontrado por estas fantásticas terras brasileiras :)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Amazonas!!

Os dias passaram lentamente, quentes e lentamente, e cada noite, após o pôr-do-sol avermelhado, com que fomos quase sempre brindadas e que tingia as águas castanhas do rio com tons indiscritíveis, as horas arrastavam-se no embalo de redes penduradas e acompanhadas pelo ruído dos motores do barco!
As vista foi mudando ao longo do percurso, que no total durou duas semanas...a desflorestação, apesar de discreta, é visível quanto mais nos aproximamos do atlântico e vêem-se constantemente fogueiras ao longe a partir da cidade de Manaus...um dia, até cinzas esvoaçávam pelo céu no meio do rio...dá uma certa melancolia quando recordamos as margens cheias de árvores frondosas que aprendemos a reconhecer e até a amar durante os dias em que estivémos na selva amazónica peruana!

O percurso dividiu-se em etapas...3 dias e 2 noites de Iquitos até à fronteira, 4 dias e 3 noites da fronteira (Tabatinga) até Manaus, 3 dias e duas noites de Manau a Santarém, e novamente 3 dias e duas noites de Santarém a Belém, cidade em que nos encontramos de momento! Fomos parando nas cidades para que as costas pudéssem recuperar a linearidade perdida na curva das redes, mas sempre pelo menor tempo possível! Ao longo dos dias os barcos mudaram e as condições também!

Uns tinham comida servida distribuida na rede, por pessoa, outros no refeitório ao toque do sino em horários nada normais (5h30-peq. almoço, 11h -almoço, 17h-jantar!), outros não tinham nada e tivémos de andar de pão e latas de atum em riste, outros tinham mas nós já estávamos tão farta da variedade alimentar (frango, arroz e massa) que acabámos por preferir as tostas do bar...enfim...foi interessante em termos alimentares...de resto, as dormidas...que dizer? Redes amontoadas, e uma tentativa constante de, em cada paragem, evitar que mais gente se colásse a nós reduzindo ainda mais o nosso espaço vital!!! Atenção constante ás malas que aumentaram com as redes e provisões...e calor...muito calor...valia-nos a brisa do fim do dia e o fresco que vinha sempre depois das chuvas que caiam ao fim da tarde! Por falar nisso, tenho de referir que até tivémos direito a uma tempestade!! :D
As Wc, são como previsto anteriormente, de utilização limitada, dadas as condições, que variavam desde chão cheio de água (ou assim queríamos nós pensar que fôsse!), imensas borboletas nocturnas de tamanhos abismais coladas pelas paredes, submarinos flutuantes, mau cheiro...mas...e porque na verdade isto surpreendeu-nos, não foi tão mau como estávamos à espera! Tinham chuveiro e sanita, e algumas até tinham luz! E apesar de tudo, acho que posso dizer que não correu nada mal!!!!

Tivémos enfim, muito tempo para escrever, ler, falar com os nativos aprisionados no barco como nós, e conhecer mais viajantes que de alguma forma solidária animavam o nosso isolamento e davam nova vida aos minutos que adormeciam nas horas!

Pudémos perceber as claras diferenças entre Peruanos e Brasileiros...pelo menos os do Amazonas, que primam pela constante tentativa de engate! Um rabo de saia não está a salvo por estas partes, e até o adultério é tolerado e muito pouco camuflado! Assim, resolvemos dar por iniciada a nossa análise sociológica dos habitantes deste pais!!! Começámos pelo norte, que é, segundo consta, onde os verdadeiros ataques acontecem...rumo ao sul, tenderão a ser mais discretos apesar do à vontade inerente...e nós, verdadeiras aventureiras iremos registando as alterações de comportamento e atempadamente vos comunicaremos!

Para já, fica a nossa vontade de poder vir á net com mais frequência para não manter o nosso blog tão desactualizado. Como disse antes, estamos neste momento na maior cidade do estado do Pará, Belém, na foz do Amazonas. Para trás ficou o estado da Amazónia, e as poucas cidade de conseguimos visitar, Manaus...cidade enorme, quente e húmida, onde apanhámos o Amazonas filme festival e nos encantámos com o artesanato...Santarém, mais pequena, bonitinha, e que tinha bem próximo um paraíso de águas azuis onde disfrutámos de um belo dia de praia (Alter do Chão)...Amanhã partiremos em direcção a São Luis para tentar chegar aos Lençóis Maranhenses e a essas famosas dunas!

Espero que estejam todos bem!
Beijões das ventosas!!!