terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O último capítulo? Será?

As tartarugas foram marcantes...tanto, quanto desgastantes!
A directa que fizémos na busca de rastos e ninhos e do vislumbre de alguma carapaça enorme a arrastar-se do mar em direcção à terra foi algo inesquecível e quase doloroso! A rendição ao espectáculo do Tamar e a entrega das tartaruguinhas ao mar foi inesquecível e ao mesmo tempo exasperante pela quantidade de gente e crianças e...e...e tudo o mais que um espectáculo daqueles abarca!
Assim, a viagem de ida para Salvador e depois para Lençóis foi cansativa e originou (pelo menos da minha parte) a rendição ao doce conforto da cama durante toda uma manhã!!

Seguimos para Lençóis directas de Salvador, sem sequer parar para conhecer a cidade, na companhia de Pedro, um Português...o nosso primeiro Português!!!!!! E tivémos sorte, porque além de "gente boa" ainda nos apresentou a sua anfitriã couchsurfer de Lençóis, a Joana!
Residente em Lençóis já há uns bons meses, a Joana guiou-nos um pouco pelas maravilhas das regiões que definem Lençóis como uma das cidades mais belas da Chapada Diamantina! Já para não falar da aula de Birimbau e de todas as explicações, e ainda de um jantar de caril de côco (mas côco a sério, do género de ter de partir a casca e pacientemente retirar a carne do côco à faca!) e abóbora! Não nos podemos queixar!
Além destes dois Portugueses, ainda conhecemos Luis, mais um Português, desta vez ás voltas num tour a grutas e rios muito bonito como podem comprovar pelas fotos já colocadas no Picasa!

Os dias em Lençóis fluiram rápidamente e de lá decidimos seguir para Rio Real, onde nos esperava Rafael, um contacto da Inês. O Rafael trabalha numa coperativa de produtores que estão associados ao comércio justo.

Eu, verdadeira leiga no assunto do comércio justo só posso dizer que valeu bem a pena o desvio da rota para passar estes 2 dias na companhia de Rafael e da sua família.
Tivémos a oportunidade de visitar um dia de grande actividade do mercado da cidade. Ver o mercado com um guia que conhece tanta gente a trabalhar lá é um previlégio! Pudémos aprender um pouco sobre a actividade das pessoas, experimentar coisas novas e aprender bastante. Ainda passámos pelo pequeno espaço da associação onde pudémos conhecer o actual director. Um personagem bastante interessante e bastante comprometido com a sua tentativa de melhorar as condições da coperativa.
Démos uma espreitadinha a uma reunião de produtores, e ainda fomos com um deles, cuja agricultura biológica está bem implementada, fazer uma visita ao seu terreno, onde além de aprendermos sobre a forma astuta como planta e cuida da terra, ainda tivémos o previlégio de provar laranjas directamente da árvore e água e carne de côcos colhidos no momento!
Foi óptimo e digo sinceramente que fiquei encantada ao ponto de já me imaginar a ter um cantinho de terra onde pudésse também eu fazer crescer da terra produtos biológicamente criados! O prazer que é comer sem nos preocuparmos em lavar a fruta!! Ainda se lembram da última vez que fizéram isso sem medo?

Durante o periodo da nossa curta estadia em Rio Real fomos ainda a uma formatura de alunos de uma escola agrícola, que luta por crescer sem grandes apoios, e de onde saem todos os anos cerca de 25 alunos que ali chegaram após rigorosa escolha dos vários municipios dos arredores. Foi memorável, quanto mais não seja pelo facto de nos termos apercebido que estávamos sem a menor hipótese de sair dali (devido ao facto da nossa boleia ser uma das mais importantes personagens da festa e que tinha de permanecer até ao final).
Assistimos uma celebração de gente vestida em traje de festa, com direito a missa, crisma, a um intervalo imenso para colocação de luzes nas tendas, entrega de diplomas um a um, e discurso de todas as pessoas sentadas na mesa (que eram cerca de 8!)...que mais vos posso dizer?...foi memorável! De tal maneira que não hesitámos em apanhar a nossa primeira oportunidade de obrigar o nosso anfitrião a levar-nos a casa! Felizmente, e para amenizar, tivémos direito a um óptimo churrasco brasileiro na companhia do Rafael, esposa e amigos.

Seguimos para Salvador.

O Rafael arranjou-nos um cantacto dele para nos receber, Kiko. Conseguimos encaixar-nos no pequenino apartamento que "simpáticamente" dividiu connosco e ali permanecemos por umas 4 noites.

Passeámos por Itapuã/Itapuan/Itapoan e démos de caras como caloroso Vinicius, perdido no meio de uma praça solarenga. Fomos ao centro, subimos e descemos durante os dias todos que lá estivémos o elevador Lacerda vezes sem conta, passeámos pelas "seguras" ruas do centro e ainda tive o previlégio se ser aldrabada por um dos rapazes pedintes! Pediu-me leite...Para a pequena irmã...e eu, sempre céptica, mas desta vez crente, assim o fiz...e comprei!
Viémos mais tarde a saber que eles depois trocam as embalagens de leite que custam uns 8 reais, por cerca de 2 reais para poderem comprar droga! Uma realidade triste...
Quem nos contou isto da troca do leite por droga foi uma das personagens que nos descobriu no largo do pelourinho!
O nome não me lembro, apesar de nos ter mostrado inúmeros artigos que compilou num caderninho e onde o seu nome aparecia com frequência...apesar de nos ter tentado impingir as xilografias que fazia e que, segundo ele eram apreciadas pelas maiores celebridades do mundo...apesar de ter uma capacidade incrível de contar histórias, fazer rir e ainda de nos fazer perder horas numas escadas de onde só saímos quase ao fim da tarde impossibilitando visitas a museus ou a qualquer outra actividade turistica!

Perdemos demosntrações de Candomblé, e de Olodum...não chegámos nos dias certos...mas tivémos a sorte de ser convidades pelo nosso anfitrião para ir a uma festa de aniversário de um amigo dele, músico percursionista!
Chegámos lá e ao entrar na sala démos de caras com um palco onde os amigos soltavam os dedos na corda de uma guitarra, faziam percursão, cantavam à vez e improvisavam ritmos em instrumentos feitos pelo dono da casa. Uma festa de músicos, onde a música sem dúvida reinou a noite toda e nos encantou!
A Inês teve ainda direito a aula de samba e tudo!!
Ficou combinado que no dia seguinte iríamos assitir a um concerto em homenagem a Aderbal Duarte, um compositor digno de registo. Valeu a pena!
O intérprete, presente na noite anterior na festa de aniversário, embora nervoso, realizou a proeza com grande destreza e adorei descobrir este compositor! A música brasileira tem realmente muita coisa para se descobrir e estou sempre a descobrir novos ritmos!

Que mais posso dizer de Salvador...ah...já sei...foi também a cidade onde nos perdemos a comprar tecidos com flores e mais flores, de corres garridas e cheias de vida!!! "Ele" eram calças, saias, toalhas de mesa...a imaginação voou alto naquela loja de tecidos!! :D

Com a ajuda do Kiko consgeuimos comprar um vôo directo de Salvador até São Paulo e em vez de perdermos um dia e duas noites de viagem de "ônibus", em 2h30 horas estavamos a aterrar em campinas!

São Paulo foi a nossa última cidade.
A viagem acabou nesta metrópole com algo de NY (na minha opinião!)...é enérgica, cheia de ofertas culturais e trânsito...muito trânsito!

Fomos recebidas pelos nossos calorosos amigos Werner e Pedro, que além de nos mostrarem o mais possível a cidade e de nos levarem ao teatro, ainda nos arranjaram dormida na casa da Ítala (namorada do Pedro)e da Tarcila.

E assim chegou ao fim o último capítulo da viagem. Não me vou prolongar nas descrições da cidade de São Paulo, porque terei oportunidade de o fazer quando a minha irmã e o Silvio cá viérem para a passagem de ano.

Da minha parte, ficarei por aqui por hoje, não só porque isto já vai longo (como sempre!) mas também porque as despedidas são sempre difíceis, e esta é a minha despedida para a Inês.

11 meses depois de ter começado, terminou a nossa travessia, a nossa viagem, a nossa parceria. Com o devido descanso de 3 meses a que nos sujeitámos para reunir energias e dinheiro para conseguir terminar a viagem no pais pretendido, aqui estamos nós!

Não vou fazer discursos, nem avaliações...guardarei isso para o fim da minha viagem, que na verdade só será quando encontrar um poiso neste país, ou seja, lá mais para o fim de Janeiro.
No entanto, vou aproveitar o momento para me despedir da minha companheira, que ao longo deste ano me ajudou a perceber quantos paus são mesmo necessários para fazer com que uma canoa não tenha furos e realmente flutue!
Aprendi muito com a minha Amiga, e só lhe posso agradecer por ter sido tão paciente e resistente nos momentos em que parecia que a canoa ia afundar. Não posso dizer que não tenhamos tido os nossos momentos, porque os tivémos, como qualquer parceria que convive 24h sobre 24h...mas não me imagino a ter feito esta viagem com mais ninguém...Obrigada Inês, por teres sido um espelho, e me teres acompanhado sem hesitar, sempre.

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