segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tartarugando

Antes de tudo deixem-me lembrar-vos que foram actualizadas há relativamente pouco tempo as fotos dos ultimos três albuns deste blog!
Cabe-me então agora neste post relatar os acontecimentos desde Aracaju. Na verdade só lá ficámos um dia e meio, o que não me permite tecer grandes comentários sobre a capital de Estado mais pequena do Brasil. Mas posso dizer que é uma cidade simpática!
A nossa ideia era de lá partir para Mangue Seco, uma praia bastante isolada e conhecida por ter sido o cenário da famosa Tieta do Agreste. Mas afinal é tão isolada e inacessível (a não ser que queiramos gastar uma nota preta)que desistimos de lá chegar. Na nossa espera desesperante por companhia para encher o barco, acabámos por conhecer um casal que nos ofereceu uma boleia irrecusável até á Praia do Forte, já bem pertinho de Salvador.
Quando lá chegámos nem queríamos acreditar. Há vinte anos seria uma vila de pescadores, mas que agora está transformada num lugar demasiado turístico. Ficámos sem vontade de permanecer muito tempo até que.... conhecemos o Projecto TAMAR.
Trata-se de um projecto apoiado pela Petrobras (sobre isto muito se poderia especular)de protecção de tartarugas marinhas em perigo de extinção. Ficámos completamente rendidas aos encantos daqueles bichos de carapaça que nós nunca tínhamos visto ao vivo. No primeiro dia que visitámos o projecto andámos horas perdidas pelo recinto a observar aquelas que estão em cativeiro e a absorver toda a informação sobre o seu habitat. Descobrimos uma coisa muito importante: estamos precisamente na época de reprodução. Todas as noites algumas tartarugas sobrem até ao areal e quando se sentem seguras cavam a sua covinha e depositam os seus ovos. Logo após regressam ao mar. Depois de mais ou menos 65 dias os filhotes furam a areia e dirigem-se ao mar para iniciar a sua luta pela sobrevivência. Em média apenas uma tartaruga em mil consegue voltar na idade adulta ao mesmo local. A grande maioria morre pelo caminho, vítima das agressões animais e humanas que o mar oculta.
Decidimos que tínhamos que assistir a este grande acontecimento. Queríamos ver uma tartaruga mãe a desovar! Queríamos ver os filhotes a correr para as ondas!
O problema é que tudo isto só se passa durante a noite e as equipas de monitorização do TAMAR que fazem o controle já não transportam visitantes para acompanhá-los. Teríamos que safar-nos por conta própria. Foi aí que a aventura começou.
Na primeira noite dirigímo-nos à praia (depois de andarmos meio perdidas no meio de condomínios fechados intermináveis que dificultam o acesso ao areal) mas a escuridão assustou-nos e desistimos rapidamente da ideia, não fosse aparecer algum "maldoso" pelo caminho. Fomos antes assistir ao concerto do Paulinho Moska que decorria no largo da igreja. E gostámos!
Na segunda noite sentíamo-nos mais seguras e afoitas. Afinal, toda a gente nos dizia que o território era pacífico e não havia problema.
Ainda pedimos a companhia de um dos colaboradores do TAMAR. Mas o moço depois de tocar e cantar com a sua banda numa festa de rua (onde também estivémos presentes) ficou muito cansado e acabou por adormecer. Mas nós não desistimos! A caminho da praia passámos por um restaurante de sushi e conhecemos os gerentes, dois portugueses do Norte do país que largaram tudo para viver à beira da praia, oferecendo comida e música (um repertório em inglês, bastante incomum nestas paragens) aos seus clientes.
Lá foram então as duas malucas para a praia, sonhando assistir a um dos inúmeros milagres que a natureza nos oferece. Apenas um! Não pedíamos muito!
Andámos, sentámo-nos, fizémos uma covinha na areia para dormir um bocadinho... enfim, uma noite movimentada e tartarugas nem vê-las! Seria exigir muito à nossa sorte de pseudo-biólogas principiantes...
Os biólogos do TAMAR passavam constantemente por nós, na sua ronda e olhavam-nos com estranheza. Nós avisámo-los que estávamos a "tartarugar" mas que iriamos ter cuidado com os ninhos já assinalados e que não iriamos interferir se víssemos alguma tartaruga a dar à costa. Ficaríamos apenas assistindo á distância.
Na madrugada do dia seguinte qual não foi a nossa frustração quando percebemos que bem ao lado do local que tínhamos escolhido para pernoitar, havia o rasto de uma tartaruga que tinha vindo deixar o seu legado. A praia é muito extensa e realmente era preciso ter muita sorte para acertar no sítio exacto!
Enfim, seguimos derrotadas para o hostal e dormimos o resto da manhã na rede do quintal.
Nessa tarde finalmente o destino resolveu brindar-nos com um punhadinho de generosidade. Pudémos assistir à abertura de dois ninhos e à largada dos filhotes para o mar, dentro do recinto do TAMAR.
Uma multidão a assistir, muitas máquinas fotográficas em riste, sem sombra de algum romantismo, mas lá conseguimos saciar um pouco a nossa sede.
Estes primeiros momentos da vida destas pequenas tartaruguinhas não deveriam ser expostos desta forma. E na maioria dos casos não o é. Trata-se apenas de uma estratégia da TAMAR para se tornar mais sedutora para os visitantes e assim conseguir mais apoio para proteger estes animais. Pareceu-me um projecto bastante interessante e bem integrado na comunidade local, com quem é desenvolvido também algum trabalho social.
E não nos podemos esquecer que a extinção é para sempre! Convém evitá-la!
Depois de abandonarmos a Praia do Forte dirigimo-nos directamente para Lençois, a fim de visitar uma parte da Chapada Diamantina. Já estão as fotos disponíveis. Em seguida rumámos a Rio Real para conhecer uma Cooperativa de Comércio Justo composta por produtores de laranjas e maracujá. Agora chegámos finalmente a Salvador e muit haverá para contar num futuro próximo!

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